sexta-feira, 30 de abril de 2010

                       

                             "ParaPollok"

“Gestuar” tua memória
transpor o teu sopro e já
com um olhar passivo
sonho de brincar
sereia, princesa
de bruxa sob o luar
crio cenários de conseqüências
atuar prenhe
identidade singular.

Walkíria Andrade F.
(primavera/2005)


    
"Furacão Rita" Tela: Walkíria Andrade F.

"Furacão Rita"
“Todo mundo é símbolo e magia?”

E poesias... E poesias eu fiz, para filosofar com essa arte ingrata a fim de me reencontrar. Encontrar-me em teus tons, com teu cheiro, com “teu cinza brilhante”, tuas memórias sem fim, só para dançar e chorar por tuas formas e me perder nelas e, de novo em tuas formas me encontrar.

E é pensando em Pollock, na sua loucura, sua fragilidade, na sua paixão e desapego ao compromisso com a vida que me permiti iniciar este texto, tentando atravessar algumas fronteiras para perseguir também, através da poesia, a construção do meu pensamento.

Com pinceladas explosivas acompanhadas de movimentos obstinados Pollock incorpora todo um processo antropológico para dar significado a suas ações e inserções que eram conduzidas num decurso de emoção, ritmo e poesia, traduzindo seus sentimentos e registrando uma referência por ordem do contexto social onde o pós-guerra conferia a humanidade muito conflito, doença, drama e sofrimento.

Segundo Hesse (1989), Pollock perseguia uma ordem que poderia ser o caos que ele buscava estruturar tão obstinadamente na expressão dos seus gestos.

Buscando compreender e expressar a idéia de fenômeno neste trabalho, me utilizo de conceitos expressivos da contemporaneidade para discutir e refletir a realidade existencial do ser, através da investigação caracterizada por vivências e memórias que se dão pela identificação do caráter indiciário.

“Furacão Rita” retrata uma realidade carregada de emoções constituídas por uma resistência ao presente, falta de estímulo e dificuldade para transformar um momento que me parecia nebuloso e sem açúcar até o instante em que percebi que o fazer artístico solicitava-me adjacente ao diálogo entre minha realidade e a realidade da academia, um maior comprometimento e envolvimento com o atual instante.

Numa provocante discussão o mestre Leandro Konder, no seu livro “as Artes das palavra”, defende o realismo de Fernando Pessoa como um realismo existencial interno e conta que o seu heterônimo, Álvaro de Campos, considera: “temos todos duas vidas, a verdadeira que é a que sonhamos na infância e a que continuamos sonhando, adultos, num substrato de névoa, e a falsa, que é a que vivemos em convivência com os outros, que é a prática, a útil, aquela que acaba por nos meter no caixão”.

E, justamente dentro deste processo, num verdadeiro conflito existencial em que rejeitando técnica e suporte, invado o espaço pictórico e simulo um rompimento provocado por pinceladas agressivas e obstinadas, resultando na desconstrução de uma idéia, uma memória que não caberia mais ali.

Assim, nasce “Furacão Rita”, através da desconstrução da forma no plano para rebelar-se contra a tradicional expressão do ser enquanto agente criador. “Quando ocorre a transformação, o caos suplanta a permanência.” (Lippard, 1992, p. 192).

Conseqüentemente, esta ação que denomino de fenômeno, me propiciou um bem estar que foi essencial para o desbloqueio do processo criativo e harmonização do eu, fazendo-me sentir vazia, cheia da ausência de toda obrigação ou mesmo contestação. Pensar “o vazio como um estado necessário para se refletir sobre uma emergência”, contribuiu significativamente para uma melhor elaboração da minha realidade pessoal enquanto agente transformador e transgressor deste espaço do agora, do atual. (Herkenhoff, 2001, p. 26)

Sob uma percepção subjetiva “Furacão Rita” se aproxima da filosofia do expressionismo Alemão, quando segundo Harrison (1998, p. 63), os intelectuais do inicio do século XX acreditavam que através da arte o artista podia transmitir diretamente uma espécie de sentimento interior – emocional ou espiritual. “O que está envolvido nesses processos é explorado em Assim falava Zaratustra (publicado em partes na década de 1890), livro citado regularmente por membros do grupo Brücke, inicia para justificar suas atitudes declaradas em relação à arte. Nele Nietzsche usa a figura de Zaratustra para explorar e opor-se ao condicionamento cultural moderno. Ele declara a morte da religião e a perda do ‘significado’ convencional da vida (no sentido de propósito sobrenatural), defendendo uma tentativa de ‘superar’ esse condicionamento para descobrir outras de expressão e significado. (...) A metáfora da ponte (die Brücke) é usada por Zaratustra no livro para representar a jornada do homem da absorção numa cultura decadente para um estado de liberdade e ‘superação’. No prólogo, Nietzsche escreve em seu estilo epigramático característico: ‘O que é grande no homem é que ele é uma ponte e não um fim: o que pode ser amado no homem é que ele é uma abertura e uma passagem... Amo aquele que não retem uma gota de espírito para si mesmo, mas quer ser inteiramente o espírito de sua virtude: Assim ele transpõe a ponte como espírito.’ (em W. Kauffman, The Portable Nietzsche, p. 127)” (Harrison. p.65, 1998)

Com uma tendência expressionista para qualidade emocional aproprio-me de uma linguagem contemporânea para expressar e simular o rompimento do plano pictórico e desenvolver um tema que confere referência aos grilhões humanos. "Quero expressar meus sentimentos mais do que ilustrá-los”. (Pollock, 1914)

Contudo, “Furacão Rita” se distancia do expressionismo abstrato de Pollok, quando, ao perseguir um novo meio de representar minhas verdades subjetivas simulo o rompimento do plano pictórico através da desconstrução da forma, provocando com esta ação uma ilusão intencional da existência de uma nova dimensão no espaço.

Ainda insatisfeita com a conclusão da obra “Furacão Rita” me utilizo dos recurso da informática para apresentá-la por meio da impressão digital aplicada em poliestireno leitoso.

Finalmente, conduzindo o processo por um outro prisma,"um olhar amoroso", "Furacão Rita" ganha uma nova consciência e dimensão para dar origem à um outro trabalho que denominei de "Gradecidade".

"Furacão Rita” tem como técnica o uso da fotografia enquanto transfer sobre tela, de 80cm x 50cm, adicionada à tinta acrílica.
 

Walkíria Andrade F.
 
 
Referência:
FREITAS, Walkíria de A. R.. Paisagem. Monografia de graduação em Artes plásticas, Escola de Belas Artes (UFBA), Salvador – BA, 2009.

3 comentários:

  1. perfeita a poesia e a foto. amei!! comunicação com o coração.

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  2. Adoro esse trabalho! "Furacão Rita" é uma das telas mais lindas que conheço. Não canso de olhar!

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  3. Ei! OLha o que encontra-se paradoxo neste mar lilás
    - pois afoito e leve como um beija-flor asando 80 vezes num pobre segundo - um grito prenhe de originalidade:
    "- SOMENTE COMO CRIADORES!!"
    Ressoa e repercute pelos estreitos cantos, incitando vôos de libertação da verdade.
    Quem o sustenta?
    Breve desconfiança...
    Quem o levanta?
    Pneumática ignorância...
    Não é que teu nobre objetivo encontra eco em um furacão a navegar em plena cor de contradição ?
    É então que a inconstante condição Ismália
    entre céu e mar,
    passa inadvertidamente a nietzschiar
    ao distanciar-se de si mesma,
    a olhar o que pode ser... o que não é...
    Entorpe de loucura deixa ditados e entrega-se em sentidos,
    agarrando-se às asas e abandonando o final do corpo ao mar,
    para abraçar pollockamente certas nuances de possibilidades
    e criar... Apenas criar...
    Obrigada guerreira-tia!

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