quarta-feira, 28 de abril de 2010


A argila no processo terapêutico

"O barro toma a forma
que você quiser
você nem sabe
está fazendo
apenas o que o barro quer”.
 (Leminsk)


Foto: Walkíria Andrade F.

Esta técnica artística é milenar, e era utilizada pelas civilizações antigas para a confecção de utensílios domésticos como também de peças de grande valor simbólico com representatividade em culto e cerimônias sagradas, como os rituais de fertilidade, por exemplo. (SEIXAS, 2008)

“A argila é um material natural muito flexível e maleável. “Proporciona a oportunidade de fluidez entre material e manipulador como nenhum outro” (OAKLANDER, 1980, apud COUTINHO, p.80, 2007). Utilizada na criação de cerâmica, a argila ou o barro, é um dos materiais mais utilizados para a técnica da modelagem.

Comparada à massa plástica ou massinha, a argila é um material muito mais rico tanto nas possibilidades afetivas quanto no maior grau de intensidade da troca que o sujeito estabelece com ela, inclusive passando o calor de suas mãos para a massa, que, a princípio fria, ao ser manuseada vai se aquecendo. Quando seca, a argila ganha vários tratamentos como tinta, cal, queima em fornos especiais, verniz. “É muito raro cometer um “erro” ao trabalhar com argila, uma vez que se pode recomeçar e remodelar, transformando o que for preciso. E isto no contexto terapêutico é um ponto importante a ser trabalhado” (COUTINHO, 2007, p. 80).

Seixas (2008), nos diz que o barro tem a natureza primitiva por agregar os quatro elementos: o ar, o fogo, a terra e a água. “A argila ressecada precisa de água para tornar-se plástica e flexível e o calor das mãos irá moldar uma forma cuja permanência necessitará da utilização do fogo que devolverá o ar à atmosfera” (2008). E conclui quando diz que os quatro elementos unidos nos fazem retornar ao primitivo, as forças da mãe terra.

O poder do fogo, segundo o pensamento alquímico deixa evidente para o indivíduo que existe uma terra sólida no qual ocorre a circulatio dos quatro elementos onde a terra se transforma em água, e a água se transforma em ar, o ar em fogo e o fogo em terra, e isso corresponde psicologicamente às diferentes fases do processo de individuação. (SEIXAS, 2008)

A modelagem é muito importante para ativar o indivíduo que se encontra em um estado de estagnação e não consegue transmitir seus pensamentos e sentimentos a suas energias a fim de disponibilizá-los em sua vida. Com a modelagem registramos histórias, expressamos atitudes, e fazemos mudanças psíquicas, ao passo em que mudamos a forma na modelagem, transformamos nossas atitudes e emoções humanas. Além de despertar emoções adormecidas. (SEIXAS, 2008)

È imprescindível que o arteterapeuta esteja atento a cada gesto, cada movimento e cada emoção, facilitando o processo do indivíduo. Observar suas palavras (associações livres), o clima emocional, sua atitude, sua expressão corporal, e a percepção de qual arquétipo o está mobilizando; o tema livre escolhido por ele, como este elabora o tema sugerido pelo terapeuta, a composição, espaço, ritmo, dimensão da obra. As áreas vazadas nos dão condições de observar a intenção do indivíduo, mesmo inconsciente de se criar mais leveza ou atingir a sensação de se penetrar em área íntima.(SEIXAS, 2008)

O indivíduo poderá modelar uma forma criando saliências ou depressões, contorno indefinido ou bem definido. Cabe ao arteterapeuta procurar compreender, ou melhor, proporcionar ao indivíduo a compreensão da sua relação com o objeto criado. É importante também perceber qual a posição da obra do individuo que ele prefere observar, quais sensações essa imagem lhe traz, que sentimentos e associações podem ser feitas a partir daí. (SEIXAS, 2008)

“A possibilidade de trocar de forma com uma intensa rapidez traz em si a vivência do poder ser de diferentes maneiras, contudo sem perder a noção de si mesmo, representado no tipo de material que continua sendo o mesmo, apesar das diferentes transformações produzidas” (URUTIGARAY, p. 63, 2008).

Podemos usar para a manipulação da argila alguns materiais como clips, fios, correntes, palito de fósforo e de churrasco, barbante, régua e água. Para o acabamento as tintas guache, acrílica e gesso.


Walkíria Andrade F.


Referência:
FREITAS, Walkíria de A. R. Arteterapia em Consultório: uma viagem interior. Monografia de especialização em Arteterapia, Instituto Junguiano da Bahia (IJBA), Salvador – BA, 2009.

Um comentário:

  1. Olha, gostaria muito de saber quem é seixas, coutinho e urutigaray. Ou então a fonte dessas suas citações para que assim eu possa utiliza-los como referencias em um trabalho também.
    Gratidão!

    Francisco

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