sábado, 25 de setembro de 2010


Você tem direito de ficar triste
Apesar de ser temido por muitas pessoas, esse tipo de sentimento não somente é natural como necessário

                    Foto:  freitasjoycee.blogspot.com

É fato, que sem dúvida, é melhor ser alegre que ser triste tal como cantou o poetinha Vinicius de Morais, mas em tempos de busca de felicidade intensa e constante é importante pensar até que ponto a tristeza pode ser um sentimento ruim e se transformar, de fato, em uma doença como a depressão.

"A obrigação de ser feliz nos deu a falsa impressão de que é contraproducente ficarmos tristes, de que isso é algo necessariamente ruim. É preciso entender que a vida traz contingencialmente situações que nos obrigam e permitem nos voltarmos para nós mesmos, chorar quando é necessário e nem sempre ter prazer ou vontade de estudar, trabalhar, se divertir'', afirma a psicanalista Maria Eunice Santos.

Neste sentido, a tristeza, além de ser um sentimento natural é necessário. De acordo com o coordenador da Enfermaria de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Lucas Quarantini, ela é uma resposta a situações de perda ou de frustrações, em que são liberados hormônios cerebrais responsáveis pela angústia e melancolia.

"Assim como outros tipos de sentimentos, ela nos ajuda a sobreviver. Nos faz pensar, refletir sobre um fato e a buscar soluções, ajudando no amadurecimento. Por isso é importante vivê-la e não rejeitá-la", esclarece.

Portanto a tristeza também tem seu lado positivo. Como já defendiam os estudantes da teoria evolucionista, os sentimentos negativos fazem parte da natureza humana. Sem eles, seríamos presas fáceis das adversidades. Nessa mesma linha, o psicologo americano Edward Diener em seus estudos sobre a felicidade afirma: "Ser feliz demais não é bom. O contentamento em excesso torna as pessoas menos capazes, menos saudáveis, menos atentas a riscos", polemiza.

Na verdade, mais do que ir em busca da felicidade, evitar a tristeza vem sendo o ideal perseguido pela humanidade às custas, inclusive, de altas doses de medicamentos.

Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária de medicamentos antidepressivos e estabilizadores do humor teve um crescimento de 44,8% no Brasil em quatro anos. O volume de vendas desses medicamentos cresceu de R$ 674,7 milhões nos 12 meses acumulados até outubro de 2005 para R$ 976,9 milhões no mesmo recorte até outubro de 2009.

Na opinião da coordenadora de psicologia do Hospital São Rafael, Marta Souza Graça, mais do que buscar de forma desenfreada a felicidade, as pessoas não tem se permitido estar tristes. "O remédio virou uma fuga rápida e fácil para escapar da tristeza. Para algumas pessoas é muito mais fácil e cômodo tomar uma pílula do que enfrentar a dor", diz.

Essa fuga não apenas camufla uma tristeza que pode se desenvolver de forma muito mais séria no futuro, como ajuda a esconder os casos que realmente precisam de tratamento, causando uma enorme confusão entre o que é tristeza e depressão.

"Costumo dizer que, apesar do crescimento no consumo de antidepressivos, quem realmente precisa de tratamento não está no consultório. O depressivo não costuma correr para o médico em busca de ajuda. Ele normalmente, se isola, esconde o que está sentindo", esclarece o psiquiatra Lucas Quarantini. "(...) Ao contrário do que muitos pensam, a depressão é uma doença muito mais subdiagnosticada do que supertratada".

Os especialistas explicam que existem diferenças bem demarcadas entre tristeza e depressão. Ficar triste porque perdeu o emprego ou um ente querido é normal. "Ao contrário de uma tristeza comum, a depressão nem sempre tem uma causa específica. Pode ser algo vago, difuso, o paciente nem sempre consegue identificar o motivo real da tristeza", diz Quarantini.

Um outro fator importante é que a depressão está sempre acompanhada de outros sintomas, a exemplo de interesse por qualquer atividade, insônia, perda da libido e da energia, ideia de culpa, baixa autoestima e ideias suicidas.

Por Fabiana Mascarenhas


Referência:  CienciaVida@grupoaterde.com.br  09/05/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário