sábado, 4 de setembro de 2010


A Anima e O Animus

Imagem: edgeent.com 

Jung conceituou a anima como toda personificação de todas as tendências psicológicas femininas na psique do homem, caracterizadas pelos “humores e sentimento instáveis, as intuições proféticas, a receptividade ou irracionalidade, a capacidade de amar, a sensibilidade a natureza e, por fim, mas nem por isso menos importante, o relacionamento com o inconsciente”. Já o animus personifica todas as tendências psicológicas masculinas na psique da mulher.

O caráter anima de um homem, segundo Jung, é geralmente determinado por sua mãe em suas manifestações individuais. E sua anima irá expressar-se de maneira positiva ou negativa de acordo com a qualidade da influência que sua mãe teve sobre ele. Se for uma influência negativa esse homem pode se comportar de maneira irritada, depressiva, incerta, insegura e susceptível. Mas isso pode servir-lhe para o fortalecimento de sua masculinidade se ele for capaz de ter controle e dominar essas tendências de cunho negativo. Jung diz que “no interior da alma deste tipo de homem a figura negativa da mãe-anima repetirá, incessantemente, o mesmo tema: "não sou nada. Nada tem sentido. Com todas as outras é diferente, mas comigo... nada me dá prazer". E esses sentimentos trazem uma espécie de apatia, medo, doenças, impotência ou acidentes. A vida ganha uma característica tristonha, opressiva, sombria, e esse estado psicológico pode até levar o homem ao suicídio e a anima torna-se então o demônio da morte.

A anima negativa de um homem também pode ser manifestada em sua personalidade no tipo de observação rancorosa, venenosa e afeminada que ele emprega para desvalorizar todas as coisas. Observação desse tipo sempre contém uma mesquinha distorção da verdade e são engenhosamente destruidoras.

Em contrapartida, segundo Jung, a anima do homem também poderá ser influenciada de maneira positiva se ele teve uma boa experiência com sua mãe. Por outro lado, se foi negativa, pode se tornar afeminado ou explorado por mulheres e agirá de modo a não ser capaz de enfrentar as dificuldades da vida. Pode também torná-lo um homem sentimental, melindroso ou sensibilíssimo.

A mãe é a primeira a receber a projeção da anima do filho, que se dá inconscientemente. Depois, durante o crescimento, o filho vai gradativamente dissipando essa projeção e direcionando-a a outras mulheres. A qualidade desta relação com a mãe determinará a qualidade dos relacionamentos do filho com as mulheres. "Para o filho, a anima oculta-se no poder dominador da mãe e a ligação sentimental com ela dura às vezes a vida inteira, prejudicando gravemente o destino do homem ou, inversamente, animando a sua coragem para os atos mais arrojados”.

“A manifestação mais frequente da anima é a que toma a forma de uma fantasia erótica” Na anima há também igual número de importantes aspectos positivos. É ela, por exemplo, responsável por escolher a esposa certa e por ajudar o homem a identificar os fatos escondidos em seu inconsciente quando o seu espírito lógico falha e se mostra incapaz de compreendê-los. Serve também como espécie de guia, um medidor entre o mundo interno e o Self.

O animus é a personificação masculina na mulher e, como a anima, apresenta os aspectos positivos e negativos. Mas o animus não costuma se manifesta sobre a forma de fantasias ou inclinação eróticas; aparece mais comumente como uma convicção secreta, sagrada. A masculinidade de uma mulher pode ser descoberta quando afirma algo com voz forte, insistente, impondo-a de maneira violenta ou agressiva. Entretanto, mesmo uma mulher bastante feminina pode ter a mesma força firme, rigorosa e inabalável. Jung ainda diz que, “de repente podemos nos deparar com algo de obstinado, frio e totalmente inacessível em uma mulher”.

O animus segundo Jung, tem como um de seus temas favoritos, e que “este tipo de mulher remói sem cessar: ‘a única coisa no mundo que eu desejo é amor - e ‘ele’ não me ama’; ou nesta situação existem apenas duas possibilidade e ambas são igualmente más".


O animus nunca aceita exceções. Como em geral a opinião do animus é uma opinião certa, não podemos contradizê-la facilmente. Entretanto dificilmente encaixa-se numa determinada situação individual, mesmo fora de propósito é uma opinião que parece aceitável. Jung diz que do mesmo modo que a anima masculina é influenciada e moldada pela mãe, o animus feminino também é moldado e influenciado pelo pai. O pai é o responsável por dar ao animus da filha “convicções incontestavelmente “verdadeiras”, irretrucáveis e de um colorido todo especial – convicções que nunca tem nada a ver com a pessoa real que é aquela mulher”. É por esse motivo que o animus, assim como anima, pode, algumas vezes, tornar-se o demônio da morte, porém Jung, complementa dizendo: “O animus negativo não aparece apenas como o demônio da morte. (...)... personifica todas as reflexões semiconscientes, frias e destruidoras que invadem uma mulher durante as horas da madrugada, especialmente quando ela deixou de realizar alguma obrigação ditada pelos seus sentimentos. É então que ela se põe a pensar nas heranças de família e em outros problemas do mesmo tipo – tecendo uma espécie de rede de pensamentos calculistas, de malícia e intriga, que a leva até mesmo a desejar a morte de outras pessoas”.

O animus, assim como a anima, não tem apenas aspectos negativos, “como a brutalidade, a indiferença, a tendência a conversa vazia, as ideias silenciosas, obstinadas e más”. Expressa também um lado positivo enriquecedor; “também pode lançar uma ponte para o Self através da atividade criadora”.

O homem quando se enamora por uma mulher, está projetando a imagem da mulher que há dentro dele. A pessoa que recebe a projeção porta então, um estado de receptividade, este estado Jung chamou de “gancho”. “O ato de apaixonar-se e decepcionar-se, nada mais é do que projeção e retirada da projeção do objeto externo”. A partir daí, ouvimos que a pessoa amada não é exatamente como se pensava, que não é como no início, que mudou, quando na verdade ela nunca foi aquela pessoa, ela só foi usada como suporte da projeção dos próprios conteúdos internos de quem se enamorou por ela.


Walkíria Andrade F.


Referência:

FREITAS, Walkíria de A. R. Arteterapia em Consultório: uma viagem interior. Monografia de especialização em Arteterapia, Instituto Junguiano da Bahia (IJBA), Salvador – BA, 2009.

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